BIOGRAFIA DOS PRIMEIROS HABITANTES (Gerson Álfio De Marco)

 

AGOSTINHO JOSÉ ALVES DE AMORIM

 

Nasceu no estado de Santa Catarina no ano de 1787. Com 22 anos aportou ele ao sertão de Araraquara, nas terras que seriam de Descalvado, ao norte do Município, próximo às margens dos rios do Pântano e Mogi-Guaçu. Nessa vasta extensão de terras, abriu a Fazenda Caridade, que tinha mais ou menos uma légua de comprimento por três quartos de légua de largura (1.350 alqueires paulistas). Aqui progrediu e como rico proprietá­rio rural desenvolveu os trabalhos para a criação da Freguesia e o desenvolvimento do povoado, pertencendo ao rol dos homens mais notáveis da terra, pela sua coragem, já que enfrentava a desordem de nosso rincão, lutando ab­negadamente por nossos direitos e contra a prepotência dos políticos de Araraquara. Com seu dinamismo conseguiu que o Imperador Pedro II, através da lei n.º 21  de 28 de fevereiro de 1844, transformasse em Freguesia a capela curada de Nossa Senhora do Belém do Descalvado, e suas desavenças com os políticos araraquarenses desanexaram nossas terras daquele Município, transferindo-as para o de Franca. Depois de permanecer em Descalvado por 55 anos, faleceu em 1864, com 77 anos e aqui foi enterrado. Amorim morreu um ano  antes de nossa elevação a vila.  Estivesse vivo, certamente teria sido eleito para participar de nosso primeiro legislativo, e com certeza se transformaria em nosso primeiro Agente Executivo (Prefeito Municipal) não só pelo seu pioneirismo, mas também pelo seu apego à terra descalvadense. Antes de morrer em mais um ato exemplar, doando todos seus haveres para um dos seus escravos de nome João da Nação.

 

NICOLAU ANTÔNIO LOBO

 

Nasceu na Província de Minas Gerais no século XVIII. Com seu irmão Manoel Antonio Lobo penetrou o sertão de Araraquara. estabelecendo-se como posseiro em terras que seriam do Município de Descalvado e que abrangiam as antigas Fazendas Grama, Nova e Areias, constituindo enorme latifúndio de 1.800 alqueires paulistas, que foi desmembrado com o tempo.  Nicolau Antônio Lobo, mais tarde, vendeu sua propriedade a Alexandre José de Castilho, também um dos primeiros habitantes que por sua vez, a vendeu mais tarde a José Ferreira da Silva. Vendida as propriedades retirou-se de Descalvado, juntamente com seu irmão, sem que se saiba ao certo para onde.

 

ALEXANDRE JOSÉ DE CASTILHO

 

Um dos primeiros habitantes do sertão de Araraquara, adquiriu terras de Nicolau Antônio Lobo. Entretanto ficou pouco tempo em Descalvado, já que vendeu suas propriedades a José Ferreira da Silva.

 

JOSÉ RODRIGUES DOS REIS

 

Conhecido como “Rodriguinho”, foi um dos primeiros povoadores de Descalvado. Lutou muito pelo Município tanto que seu nome denominou até 1867 a atual Avenida Guerino-Oswaldo.

 

TOMÉ FERREIRA

 

Tomé Manoel Ferreira era irmão de José Ferreira da Silva, nasceu em 1789 na cidade de Santo Antônio do Machado no Estado de Minas Gerais. Veio para o sertão de Descalvado com 30 anos, juntamente com seu irmão nos idos de 1820, onde encontraram  os desbravadores Agostinho José Alves de Amorim e os irmãos Nicolau e Manoel Antonio Lobo. De um deles Tomé Ferreira adquiriu grande propriedade no bairro do Cuscuzeiro, atual Fazenda Monte Alverne, onde cultivou os afamados fumos “Tomé Ferreira” e “Descalvado”. Até 1862 ano em que faleceu com a idade de 72 anos, participou com outros proprietários rurais de todas as vicissitudes históricas de Descalvado, da construção da capela curada à freguesia. Não alcançou porém a elevação a Município, mas contribuiu muito para isso, ajudando os que queriam o progresso, aparecendo seu nome em todos os movimentos de opinião e de reivindicação. Foi sepultado em terra descalvadense, com toda certeza na atual Praça Nossa Senhora do Belém, que foi nosso primeiro cemitério.

 

JOSÉ FERREIRA DA SILVA

 

Natural de Minas Gerais, de Santo Antônio do Machado, onde nasceu no ano de 1789, local  onde o rio Machado corre tranqüilamente ziguezagueando pelas planícies alongadas até desaparecer bruscamente no horizonte. As águas do rio jorram violentamente pela pedreira abaixo com ronco surdo e contínuo no Poço Fundo. É assim a Cachoeira do Poço Fundo, que dá nome ao Bairro do Poço Fundo, na época Município de Santo Antônio do Machado. Dali em 1820, com 31 anos, partiu José Ferreira da Silva e sua mulher Florência Maria de Jesus para o sertão de Araraquara, onde adquiriram de Alexandre José de Castilho, a Fazenda Areias, da qual mais tarde, cumprindo voto religioso, construiriam uma capela e dariam uma légua de terras para Nossa Senhora do Belém, dando início ao povoado que seria futuramente Descalvado. Poucas referências se constatam a respeito de José Ferreira da Silva, após a doação do patrimônio. Apenas espaçadamente, a de seu registro como eleitor da Paróquia, até o ano de 1860, data provável de seu falecimento com 71 anos de idade.

 

OUTROS PIONEIROS

 

                Manoel Joaquim Bernardes e Joaquim de Oliveira Preto, que chegaram às terras de Descalvado no ano de 1820.

 

- 10/11/1842 - Escritura de doação de patrimônio (vide texto original abaixo) feita por José Ferreira da Silva e sua mulher Florência Maria de Jesus para a Igreja de Nossa Senhora do Belém.

(Dizemos nós abaixo assinado, eu José Ferreira da Silva e minha mulher Florência Maria de Jesus, que somos senhores e possuidores de um terreno livre e desembargado, neste lugar denominado Descalvado, do Termo da Vila da Constituição o que tem por divisa o se  segue, principia pela barra do Tamanduá, acima até a sua última cabeceira e desta a rumo direito ao Córrego do nosso monjolo e por este acima até as cabeceiras divisando com a Fazenda Nova, até o alto pelo lado esquerdo e daí pelo espigão que divisa as águas de São Bento com as que pertence a esta doação e seguindo pelo mesmo espigão a procurar o Ribeirão Bonito até a cabeceira do Córrego da divisa e por ele abaixo até a sua barra com o Ribeirão Bonito onde mora João da Silva e pelo dito ribeirão acima até a barra do Tamanduá já referido onde teve princípio esta divisa, ficando reservado terreno de quatro alqueires que hoje possui Cândido José Soares e também cem braças, para cá, digo, e também cem braças de terreno desde a forquilha do Córrego pelo braço direito acima até a barra do corguinho de nossa aguada até sua cabeceira e desta arruma direto até o Córrego do Manjolo onde fizer testada outras cem braças da dita forquilha o qual terreno assim divisado doamos como de fato doado temos de hoje em diante a Nossa Senhora do Belém, pelo Patrimônio de sua Igreja, que será distribuído este terreno aos povos que nele se quiserem arranchar e contribuir para as obras da mesma Igreja, por um Procurador da Igreja que o Capelão ou Pároco nomear para esse fim o qual Procurador assim nomeado poderá passar título dos terrenos do dito patrimônio que distribuir com os povos recebendo o preço e quantia que com os mesmos contratar para ser aplicado nas obras da dita Igreja. Declaramos que durante a vida de mim e minha mulher ninguém poderá fazer obras dentro do terreno que se compreende nos dois córregos que faz forquilha abaixo de nossa casa porém sim em todo o mais terreno e por ser esta doação feita de nossas livres vontades e sem constrangimento

de pessoa alguma, pedimos e rogamos as Justiças deste Império que dê a este papel toda força e vigor como se fosse escritura, digo, fosse escritura pública que não duvidamos passar quando se nos exigir e se nele faltar alguma cláusula ou cláusulas em direito necessários para seu inteiro vigor, aqui as havemos por expressadas como se de cada uma dela fizéssemos especial menção. E para constar mandamos passar para o presente que vai assinado a meu rogo por Agostinho José Alves de Amorim e a rogo de minha mulher assina Alexandre José de Castilho por nós não sabermos ler e nem escrever. Capela de Nossa Senhora do Belém do Descalvado, 10 de novembro de 1842. Assino a rogo do doador José Ferreira da Silva, Agostinho José Alves de Amorim. Assino a rogo de Florência Maria de Jesus, Alexandre José de Castilho. Testemunha Antonio Joaquim Leme. Testemunha que esta faz e vi assinar. Manoel Leandro de Araújo.)

 

- 28/02/1844 - Criação da Freguesia (Distrito de Araraquara) da Capela Curada de Nossa Senhora do Belém pela lei n.º 21.

( Lei n.º 21, de 28 de fevereiro de 1844. “Manoel Felizardo de Souza e Melo, Presidente da Província de São Paulo, faço saber a todos os habitantes que a Assembléia Legislativa Provincial decretou e eu sancionei a lei seguinte: Artigo 1º- Fica erecta em Freguesia a Capela Curada de Nossa Senhora do Belém do Descalvado, da Paróquia de Araraquara, e o Presidente da Província autorizado para demarcar-lhe limites. Artigo 2º - Esta nova Freguesia fica desanexada do município de Araraquara, e reunida com todo o seu território ao de Mogi-Mirim. Artigo 3º - Ficam revogadas as disposições em contrário. Mando portanto, a todas as Autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente, como nela se contém. O Secretário desta Província a faça imprimir, publicar e correr. Dada no Palácio do Governo de São Paulo ao 28 de fevereiro de 1844. assinado Manoel Felizardo de Souza Melo. - Carta da lei pela qual V. Excia manda executar o decreto da Assembléia Legislativa Provincial, que houve por bem sancionar, elevando à categoria de Freguesia, a Capela Curada de Nossa Senhora do Belém do Descalvado, no Município de Araraquara, e anexando-o ao de Mogi-Mirim, como acima se declara. Para V. Excia ver. Joaquim José de Andrade e Aquino a fez.)

 

- 22/04/1865 - Elevação à Vila do Belém do Descalvado pela lei n.º 72

(Lei n.º 72 de 22 de abril de 1865. “O Dr. João Crispiniano Soares, do Conselho de Sua Majestade, o Imperador e Presidente da Província de São Paulo, Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembléia Legislativa Provincial decretou e eu sanciono a lei seguinte: Artigo Único - Fica elevada à categoria de Vila a Freguesia do Belém do Descalvado, do município de São João do Rio Claro, com as mesmas divisas; revogadas as disposições em contrário. Mando, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém. O Secretário desta Província o faça imprimir, publicar e correr. Dada no Palácio do Governo de São Paulo ao 22 de abril de 1865. assinado João Crispiniano Soares. Casta de lei pela qual V. Excia manda executar o decreto da Assembléia Legislativa Provincial, que houve por bem sancionar, elevando à categoria de Vila a Freguesia do Belém do Descalvado, do Município de São João do Rio Claro, como acima se declara. Para V. Excia ver. Júlio Nunes Ramalho da Luz o fez.)

 

- 15/04/1873 - Criação da Comarca pela lei n.º 64;

                               Antes pertenceu às seguintes Comarcas:

                               1844 – Franca ( 7ª Comarca)

                               1845 – Campinas (3ª Comarca)

                               1852 - Mogi Mirim

                               1859 – São João do Rio Claro

                               1866 - Araraquara

                               1868 – São João do Rio Claro

                               1873 – Comarca de Belém do Descalvado

O primeiro Juiz Titular da Comarca de Descalvado foi o Dr.  Olímpio Pinheiro de Lemos.

Através da lei complementar de número 762 de 30 de setembro de 1.994, foi criada em Descalvado a 2ª Vara Judicial que foi instalada no dia 17 de março de 2.000 com a presença do Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, o Desembargador Márcio Martins Bonilha. A primeira Juíza Titular desta Vara foi a Dra. Camila de Lima e Montes Castanho.

 

Cidades que pertenceram à Comarca de Descalvado

                Pirassununga - de 1873 a 1890

São Carlos - de 1873 a 1880

                Santa Rita do Passa Quatro - de 1875 a 1890

                Porto Ferreira - de 1885 a 1892

 

Histórico da Comarca de Descalvado segundo o livro “Ensaio de um Quadro Demonstrativo do Desmembramento das Comarcas” editado no ano de 1940 pelo Departamento Estadual de Estatísticas:

“Descalvado – Esta povoação fundada em território de Araraquara foi elevada a freguesia com o nome de Nossa Senhora do Belém do Descalvado, em 28 de fevereiro de 1844 e incorporada ao município de Mogi Mirim. Por isso pertenceu primeiro ao termo de Mogi Mirim e Casa Branca, da 7ª comarca (Franca). Sendo, ainda como freguesia, incorporada ao município de Rio Claro, pela lei n.º 13, de 7 de março de 1845, ficou pertencendo ao termo de Constituição e Limeira, da 3ª comarca (Campinas); termo de Limeira e São João do Rio Claro, comarca de Mogi Mirim, pela lei n.º 11, de 17 de julho de 1852; termo reunido ao de Limeira, pelo decreto n.º 1.474, de 2 de outubro de 1854, comarca de Mogi Mirim; termo de São João do Rio Claro e Limeira, comarca de São João do Rio Claro, pela lei n.º 26, de 6 de maio de 1859; termo de São João do Rio Claro, comarca de São João do Rio Claro, pelo decreto n.º 2.449, de 3 de agosto de 1859. Elevada a vila em 1865m continuou a pertencer à comarca de São João do Rio Claro; termo de Belém do Descalvado, da comarca de Araraquara, lei n.º 61m de 20 de abril de 1866; termo reunido ao de Pirassununga, comarca de Araraquara, pelo decreto n.º 3.729, de 10 de novembro de 1866; termo de Belém do Descalvado reunido ao de Pirassununga, comarca de São João do Rio Claro, pela lei n.º 48, de 15 de abril de 1868; termo de Belém do Descalvado, reunido ao de Pirassununga, comarca de Belém do Descalvado, pela lei n.º 64, de 15 de abril de 1873; termo de Belém do Descalvado, comarca de Belém do Descalvado, decreto n.º 6.240, de 5 de julho de 1876. A lei n.º 1.157, de 26 de dezembro de 1908, mudou o nome desta comarca para Descalvado. Esta Comarca instalada no dia 1º de outubro de 1873 foi criada com os termos de Belém do Descalvado, Pirassununga e São Carlos do Pinhal. Foram desanexados os municípios de: São Carlos, pela lei n.º 38, de 27 de março de 1880; Pirassununga pelo decreto n.º 64, de 30 de junho de 1890. A comarca de Descalvado consta atualmente somente do município do mesmo nome”.

 

-16/10/1873 - Instalação do Cartório do Registro Geral das Hypothecas da Comarca do Belém do Descalvado - Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e setenta e três aos dezesseis de outubro do dito ano, nesta Vila de Pirassununga, sede da Comarca do Belém do Descalvado, na sala da Câmara Municipal, lugar onde se celebram as audiências do Juízo, as onze horas do dia, designadas para a instalação do Cartório do Registro Geral das Hipotecas desta Comarca, como foi previamente anunciado por editais datados do dia quinze do corrente mês, publicados e afixados nos lugares públicos do estilo; achando-se presentes o Meritíssimo Juiz de Direito da Comarca Doutor Joaquim Ignácio de Moraes, comigo Antonio Augusto Bezerra Paes, tabelião do Público Judicial e Notas do Termo do Belém do Descalvado, nomeado interinamente pelo mesmo Juiz de Direito para servir de Oficial do dito Registro nos termos do artigo 5º do decreto n.º 3453 de 26 de abril de 1865, e aviso n.º 98 de 26 de abril de 1872, em virtude do competente título expedido em data de doze do corrente mês; e o porteiro deste Juízo Joaquim Bezerra Machado Cintra; pelo referido Doutor Juiz de Direito foi declarado instalado o Cartório do Registro Geral das Hipotecas desta Comarca do Belém do Descalvado, que funcionará de ora em diante de conformidade com a legislação em vigor, e ordenou que isto se fizesse público em todos os termos da Comarca para ciência dos interessados. Não existindo livros alguns pertencentes ao antigo Registro das Hipotecas, pois que esta Comarca tendo sido criada pela lei provincial do corrente ano, foi instalada no dia primeiro do corrente mês, sendo neste ato criados dez cadernos com dez folhas cada um para os fins indicados no artigo 13 do supra citado decreto n.º 3453 de 26 de abril de 1865, achando-se o presente caderno (protocolo) devidamente selado e todos eles numerados, rubricados e com os competentes termos de abertura e encerramento feitos pelo mencionado Doutor Juiz de Direito, cujos cadernos servirão provisoriamente até que cheguem ao Cartório os livros que tem de ser fornecidos pelo Governo. O Doutor Juiz de Direito da Comarca, havendo como fica declarado por instalado o Cartório do Registro Geral das Hipotecas desta Comarca, mandou, para o todo o tempo constar, lavrar este auto que assina, determinando que dele se extraísse cópia autentica para ser enviado ao Presidente da Província. Eu Antonio Augusto Bezerra Paes, Oficial Interino do Registro Geral das Hipotecas da Comarca, o escrevi. Joaquim Ignácio de Moraes.

 

- 01/04/1889 - Elevação à cidade pela lei n.º 90

(Lei n.º 90 de 1º de abril de 1889 - O Dr. Pedro Vicente de Azevedo, Presidente da Província de São Paulo, Faço saber a todos os seus habitantes, que a Assembléia Legislativa Provincial decretou, e eu sanciono a seguinte Lei: Artigo 1º - Fica elevada à cidade a Vila do Belém do Descalvado. Artigo 2º - Revogadas as disposições em contrário. Mando, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como nela se contém. O Secretário desta Província a faça imprimir, publicar e correr. Dada no Palácio do Governo da Província de São Paulo, em 1º de abril de 1889. assinado Dr. Pedro Vicente de Azevedo. Carta de lei pela qual V. Excia, manda executar o Decreto da Assembléia Legislativa Provincial, que houve por bem sancionar, elevando à cidade a Vila do Belém do Descalvado, como acima se declara. Para V. Excia ver. Antonio Gonçalves de Araújo Júnior a fez.)

 

- 26/12/1908 - Simplificação do nome para Descalvado pela lei 1157

(Lei n.º 1157 de 26/12/1908 - Muda a denominação do Município, Comarca e Distrito de Paz do Belém do Descalvado para a de Descalvado. O Doutor Manoel Joaquim de Albuquerque Lins, Presidente do Estado de São Paulo, Faço saber que o Congresso Legislativo do Estado decretou e eu promulgo a lei seguinte: Artigo 1º - Fica mudada a denominação do Município, Comarca e Distrito de Paz do Belém do Descalvado, para a de Descalvado. Artigo 2º - Revogam-se as disposições em contrário. O Secretário de Estado dos Negócios do Interior assim o faça executa. Palácio do Governo do Estado de São Paulo, em 26 de dezembro de 1908. assinado: Manoel Joaquim de Albuquerque Lins e Carlos Augusto Pereira Guimarães. Publicada na Secretaria de Estado dos Negócios do Interior em 26 de dezembro de 1908. O Diretor Álvaro de Toledo.)

 

UMA POLÊMICA HISTÓRICA - JOSÉ FERREIRA DA SILVA, AGOSTINHO JOSÉ ALVES DE AMORIM OU FLORÊNCIA MARIA DE JESUS?

 Luiz Carlindo Arruda Kastein

 

Sempre existiu quem considerasse o ano de 1809 como o de fundação de Descalvado, por Agostinho José Alves de Amorim,  portanto 23 anos antes da doação das terras por José Ferreira da Silva. Como não é de hoje que existe a polêmica sobre o fundador de Descalvado, vamos aventar também a hipótese de que a verdadeira fundadora da cidade tenha sido Florência Maria de Jesus.

Afinal o português catarinense Agostinho José Alves de Amorim tomou posse destas terras no ano de 1809 (fazenda Caridade) e nada doou para constituição do patrimônio. O português mineiro José Ferreira da Silva adquiriu  sua fazenda  (Areias) em 1820 e também não se preocupou em ceder terras para o patrimônio público. A doação para a Capela só veio a ocorrer em 1832 quando Florência Maria de Jesus adoeceu e por sua recuperação fez o seguinte voto religioso à santa de sua devoção que era Nossa Senhora do Belém: Doação de uma légua de terras para constituir patrimônio da Igreja construindo uma capela em louvor à Nossa Senhora do Belém, cuja imagem esculpida em madeira teria a altura e peso de Florência Maria de Jesus. Foi a partir daí que nasceu a capela, a vila, a cidade. Então quem fundou Descalvado? Mas vamos à história completa: Durante muitos anos a Câmara Municipal discutiu sobre quem inventou Descalvado. Seria Agostinho José Alves de Amorim, português, lá dos confins de Santa Catarina, que chegou por aqui em 1809 e abriu a Fazenda Caridade no então sertão de Araraquara, ou seria José Ferreira da Silva que em 1842 por escritura particular, doou parte de seu patrimônio para a Paróquia de Nossa Senhora do Belém? Antenor Betarello historiador fica com o primeiro. Gerson Álfio De Marco também historiador, com o segundo. Polêmica à parte, vamos conhecer esta história. Agostinho José Alves de Amorim nasceu na Província de Santa Catarina no ano de 1787. Em 1809, com apenas 22 anos, chegou às terras inóspitas e sem dono, de Descalvado. Estabeleceu-se ao norte do município, em terras férteis entre as margens dos rios Mogi-Guaçu e Pântano. Nesta vasta extensão de terras, abriu a Fazenda Caridade, que inicialmente tinha uma légua mais ou menos de comprimento e três quartos de légua mais ou menos de largura, ou seja, uma média de 6.600 metros de comprimento por 4.950 metros de largura (3.267 hectares ou 1.350 alqueires paulistas).  Aqui progrediu e como rico proprietá­rio rural desenvolveu os trabalhos para a criação da Freguesia e o desenvolvimento do povoado, pertencendo ao rol dos homens mais notáveis da terra, pela sua coragem, já que enfrentava a desordem de nosso rincão, lutando ab­negadamente por nossos direitos e contra a prepotência dos políticos de Araraquara. Com seu dinamismo conseguiu que o Imperador Pedro II, através da lei n.º 21 de 28 de fevereiro de 1844, transformasse em Freguesia a Capela Curada de Nossa Senhora do Belém do Descalvado, e suas desavenças com os políticos araraquarenses desanexaram nossas terras daquele Município, transferindo-as para o de Mogi-Mirim. Depois de permanecer em Descalvado  por  55  anos,  faleceu em 1864 e aqui foi enterrado. Amorim morreu um ano  antes de nossa elevação a Município. Estivesse vivo, certamente teria sido eleito para participar de nosso primeiro legislativo, e com certeza se transformaria em nosso primeiro Agente Executivo (Prefeito Municipal) não só pelo seu pioneirismo, mas também pelo seu apego à terra descalvadense. Pouco antes de morrer praticou mais um ato exemplar doando todos seus haveres a um de seus escravos chamado João da Nação. A Câmara Municipal reconhecendo o trabalho deste pioneiro, através da lei n.º 13 de 6 de setembro de 1954,  denominou a rua férrea, ao lado da antiga linha férrea da FEPASA, como rua Agostinho José Alves de Amorim.    José Ferreira da Silva, era natural de Minas Gerais, de Santo Antônio do Machado, onde o rio Machado corre tranqüilamente ziguezagueando pelas planícies alongadas até desaparecer bruscamente no horizonte. As águas do rio jorram violentamente pela pedreira abaixo com ronco surdo e contínuo no Poço Fundo. É assim a Cachoeira do Poço Fundo, que dá nome ao bairro do Poço Fundo, na época município de Santo Antonio do Machado. Dali em 1820, com 31 anos de idade, partiu José Ferreira da Silva e sua mulher Florência Maria de Jesus para o sertão de Araraquara, onde adquiriram de Alexandre José de Castilho, a Fazenda Areias, da qual em 1832 cumprindo voto religioso, doaram uma légua de terras para Nossa Senhora do Belém, dando início ao povoado. Após a doação poucas referências temos da vida do casal. Sabe-se que José Ferreira da Silva foi eleitor na Paróquia até 1860, data provável de seu falecimento com 71 anos de idade. De Florência Maria de Jesus não tivemos mais registros após a escritura de doação. Os dois não participaram da vida política da cidade, com toda certeza eram pessoas bem simples e analfabetas, já que na escritura de doação das terras, Agostinho José Alves de Amorim assinou a rogo de José Ferreira da Silva e Alexandre José de Castilho a rogo de Florência Maria de Jesus. Os poderes públicos homenagearam José Ferreira da Silva dando seu nome a uma rua  central e ao tradicional “Ginásio”. Florência Maria de Jesus foi homenageada com seu nome dado a uma pequena praça ao lado da estação ferroviária.  O Dr. Glenan Leite Dias, conceituado médico, e que não raras vezes assinava artigos em jornais da terra, certa vez escreveu: "Agostinho de Amorim  encontrou Descalvado e não inventou Descalvado - inspiração original de José Ferreira, cujo nome é patrimônio histórico que recebemos das gerações passadas e que temos a responsabilidade de transmitir às gerações futuras. E  escreveu mais: "Não faz muito, assistimos ilustre político sofrer inesperada derrota, em pleito municipal, possivelmente por ter atribuído a Agostinho de Amorim a fundação da cidade". Referia-se o médico ao historiador Antenor Betarello que sofreu esmagadora derrota nas eleições municipais de 1959 quando enfrentou Deolindo Zaffalon, como candidatos a prefeito. Apesar de ter sido apoiado pelo então prefeito Jayme Regallo Pereira, obteve apenas 708 votos, contra 1.721 votos de Deolindo.  Derrotado nas eleições perdemos o político e o historiador que daqui partiu para nunca mais voltar. Do mesmo lado do Dr. Glenan, estava o inesquecível amigo e historiador Gerson Álfio De Marco que sempre afirmou que embora Amorim tenha chegado primeiro, aqui só constituiu fazenda. Não fosse a doação de José Ferreira e sua mulher de um patrimônio para a Igreja de Nossa Senhora do Belém, e não teríamos o povoado, a vila, o município. Afirmava ele, seríamos sempre terras de Araraquara. Mas e se não fosse o voto religioso de Florência Maria de Jesus, um dos dois teria se preocupado em doar patrimônio para a Igreja?

Amorim de 1809 a 1832, durante 23 anos não manifestou intenção. José Ferreira de 1820 a 1832, corridos 12 anos, só se preocupou com a doação a partir da enfermidade da mulher. Afinal se Descalvado existe, pelo menos oficialmente, pela escritura de doação, lavrada na Câmara Municipal de Rio Claro, foi por força e vontade religiosa de Florência Maria de Jesus. Com toda certeza Agostinho José Alves de Amorim, José Ferreira da Silva e Florência Maria de Jesus, estão se revirando, cada qual em seu túmulo, para conquistar um lugar em nossa história, como verdadeiro fundador das terras de Nossa Senhora do Belém do Descalvado.


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